Como já havia comentado aqui, estou cursando Psicologia. E foi mais ou menos assim que aconteceu:
Nos idos de novembro do ano
passado eu estava fazendo terapia com um psicólogo. Como sempre, mais uma
tentativa de tratar meu transtorno alimentar. A terapia em si não deu muito
certo, na verdade, nem um pouco certo. Mas em uma das sessões conversamos sobre
formação acadêmica. Ele me contou de um sonho que ele tinha quando cursava
Economia lá em Caracas (ele era venezuelano e trabalhava com hipnose “bem
dormido, bem dormido...”) e que só parou quando ele decidiu trocar o curso e
estudar Psicologia. Porque era disso que ele gostava, na verdade.
Eu me identifiquei pelo fato de
não ser feliz no Direito. Eu realmente não sei por que optei por estudar o
Direito. Eu sempre achei que era isso que eu queria. Aos 11 anos dizia que
queria ser Promotora de Justiça – risos + sinal da cruz.
E talvez por estudar sempre em
escola de classe média, achava que minhas opções eram Direito ou Medicina. Meus
pais nunca me forçaram a escolher determinado curso, eu apenas não cogitei
fazer outro.
E Direito foi aquela coisa, né. Como
um relacionamento abusivo, eu acreditava que o curso ia mudar, uma hora ia
chegar uma matéria que eu gostasse ou eu ia tomar gosto pela coisa ou que era
assim mesmo, fazer o quê, não é possível ter tudo nesta vida.
Tudo era muito difícil e
pesaroso. Meus pais diziam que, se eu me dedicasse, seria uma ótima advogada ou
qualquer coisa que o valha. Mas eu não queria me dedicar e achava que era
preguiça, falta de força de vontade. Terminar a faculdade (depois de 7 anos)
foi um parto. Uma conquista, mas um parto. E claro que quando você termina a
faculdade de Direito você é... nada, né. Aí tivemos a OAB. Reprovei. Fiz de
novo até passar. Passei. Virei Professora Assistente num curso preparatório e
pude ajudar alguns alunos que também passaram pela mesma dificuldade que eu.
Mas tudo sempre muito pesado,
muito difícil, muito nervosismo envolvido nisso tudo. Mas eu fui dando um
jeito. Eu fui dando conta.
Até que eu percebi que eu não
precisava. Ao conversar com o Psicólogo, eu disse que me interessava, na
verdade, por Psicologia e que ainda quando cursava Direito eu me interessei por
esta área. Mas eu me considerava velha para recomeçar, até por serem áreas bem
diferentes.
No entanto, ele disse que uma
segunda graduação é bem diferente da primeira. Que temos mais maturidade e
levamos de outro jeito. E eu fiquei pensando naquilo durante minha volta para
casa e, chegando lá, conversei com meus pais. Falei que estava muito infeliz no
Direito e que só de pensar em investir mais de mim nesta área já me deixava
desanimada.
Então disseram para eu ver se
tinha Psicologia na Universidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS (já que
se eu fosse estudar pra uma pública eu teria que tirar um ano só pra isso etc.).
Entrei no site da USCS e as inscrições para o vestibular estavam abertas. Me
inscrevi.
No dia 13 de dezembro de 2015,
meu pai trouxe pastel da feira para almoçarmos e depois fomos ao campus ali
perto de casa. Eu, ele e a cachorra. Fiz a prova, com tranquilidade mas também
com certa expectativa.
No dia 15, recebi o e-mail com o
resultado:
![]() |
1° lugar? Rapaaaaz... |
Dessa vez, passei em primeiro e
ainda acabei ganhando bolsa de 50% de desconto nas mensalidades do 1° semestre
inteiro. Parece que o jogo virou, não é mesmo?
De último a primeiro lugar. E vou
te dizer que, apesar dos trocentos trabalhos em grupo que temos que fazer todo
santo semestre, estou gostando e meu desempenho é muito melhor do que no Direito.
Tem esforço, é cansativo, mas tudo sempre permeado pela certeza de estar
fazendo o curso que eu quero e gosto.
Ciente e grata pela oportunidade
que estou tendo de recomeçar, espero que, por meio da minha nova profissão, possa
ajudar àqueles que não a tiveram ao longo da vida.
5 comentários:
Vc é simples e complexa como a palavra linda! Saudade anushka! Bjo do seu amigo que nunca a esquece! Jonathas hosaka
Que lindo Ana!! Me vi em situação semelhante quando percebi que me torturava por características que julgava como "defeitos imperdoáveis" no trabalho quando na verdade eram as qualidades ideais para serem aplicadas em outro ramo e você também estava comigo nessa hora! :)
Fico muito feliz que tenha encontrado um sentido de naturalidade no que está fazendo agora. Se é pra sofrer que ao menos seja com um propósito que alivia né! A gente bate, bate a cabeça, mas nunca é tarde pra acertar o curso na direção certa!
Sim! Deu tempo! Hahahahaha
Ótimo texto.
Se não fosse autobiográfico,a vida de muitos de nós estaria descrita ipsis litteris.
Continue metamorfoseando,ainda que tenha encontrado seu rumo.
:)
Ótimo texto.
Postar um comentário