sexta-feira, 9 de julho de 2010

um pouco sobre cartas

“Sem família o que somos? Menos que poeira de um grão. Sem família, sem amigos: o que me restava fazer? A única saída era sozinhar-me, por minha conta...”


Este é um outro trecho do mesmo autor do post anterior. Eu escrevi esta frase no intuito de começar uma carta, talvez um e-mail para meu querido amigo. Mas, na verdade, quem escreve cartas hoje em dia? Até pensei em escrever uma para uma amiga minha de longa data (se é que se tem amigos de longa data aos 24 anos...) e, recentemente, soube que ela está um pouco surtada, envolta em problemas e agindo de forma estranha. Desisti, claro. Perdeu todo o charme. E lamento o fato de não ter amigos românticos que moram longe. Posso até ter algumas amigas na minha cidade, mas não é a mesma coisa, sem contar o fato de que ninguém responde cartas hoje em dia.

Minha mãe disse que, no tempo dela, havia um programa em que se trocavam endereços e então se dava início a uma longa troca de correspondência pelo mundo todo. Ela conta da amiga dela dos Estados Unidos com quem ela se correspondia e que inclusive já morreu. Hoje ela escreve e-mails e textos e sempre lamenta que ninguém os lê. Eu mesma gostaria de um programa desses para escrever para alguém do exterior, algo emocionante assim. Lembro-me bem da alegria de receber uma carta, o quanto eu gostava.

Hoje parece que nada do que dissermos será interessante o suficiente, já que todos sabem de tudo. Qualquer novidade pessoal dividida pode se tornar uma competição para ver quem se saiu melhor na vida, ainda mais diante de tantas possibilidades e acontecimentos no mundo. Tudo parece insignificante, não digno de nossa atenção. Antes dividia-se o cotidiano nas cartas... alguém que teve um filho, a planta que floresceu, o cachorro que deu cria... como uma carta, hoje, poderia ser interessante? Eu não acho nem minha vida interessante. Mas talvez seja assim porque talvez eu não esteja prestando muita atenção nela. Talvez, na verdade, do que eu precise mesmo seja de um diário, e não um destinatário.