sábado, 21 de abril de 2012

mudanças - parte final

Eu estava passando as férias de fim de ano na casa dos meus tios, em São Paulo, quando minha mãe ligou contando que a transferência que meu pai solicitara havia sido aprovada. Ele tinha que escolher entre as cidades de Jundiaí ou Santo André. Todo mundo escolheu Jundiaí, foi unânime, com exceção do meu pai que escolheu Santo André.

De início eu não gostei da ideia, já que morar em cidade grudada com outra nunca foi meu estilo. Sempre preferi cidades que têm começo e fim, com limites bem definidos. Esse negócio de olhar para a janela e falar "Ali já é São Bernardo." Ali onde? "Aqui já é São Caetano." Como assim, "Já é?" Cadê o intervalo nessa coisa? Cadê a estrada?

Sem considerar o fato de que, como eu disse, Cuiabá possuía uma identidade própria, ao contrário de Santo André que, em meu entender, ficava perdido no "Grande ABC" e que, segundo meu amigo, sua melhor qualidade era a de ficar próxima a São Paulo. Achei tudo isso um pouco frustrante (mas o fato de ficar perto de São Paulo realmente me deixou mais animada, não vou negar).

Mais uma vez tudo aconteceu de forma célere e logo estávamos envoltos no caos da mudança. Eu havia planejado tudo: primeiro encaixotamos tudo, o pessoal da mudança leva para o depósito, realizamos os reparos e a pintura no apartamento, colocamos à venda e nos mudamos. Aí os pintores vieram, os caixotes chegaram, e a bagunça tomou conta. Como disse, caos.

Eu pensei que a transição seria um pouco mais tranquila, mas acabei vindo junto com meu pai - o que me fez arrumar tudo às pressas e não conseguir despedir-me de todo mundo - para ajudar a escolher um apartamento. Não vou contar detalhadamente como foi por acaso que eu encontrei, depois de duas semanas, uma imobiliária que tinha o apartamento em que atualmente residimos e como se deu toda a correria de conseguir a papelada, até porque é muito chato. Ah, deixo apenas uma dica para você que é corretor: ficar falando para o cliente "A pressa é de vocês..." é extremamente desagradável e faz-nos sentir como se não estivéssemos indo atrás daquilo que queremos. É ficada a dica.

Então aqui termina a série de como eu vim parar em Santo André e nessa parte eu digo que estou gostando, principalmente do clima de temperatura amena e agradável - além da proximidade do meu irmão mais velho, alguns familiares e queridos amigos, claro.

Creio que este ano ocorrerão algumas mudanças pessoais e espero que essa pacata cidade, com caminhões de gás com musiquinha e poucos prédios à vista, seja mais querida comigo do que qualquer outra cidade tenha sido. E que os cães da vizinhança encontrem a paz interior e parem de latir tanto. Sério, não sei o que acontece com eles, são muito estressados!

sexta-feira, 20 de abril de 2012

mudanças - parte II

Isso foi numa terça-feira, em maio de 2005. Mais tarde naquele dia consegui falar com minha mãe, que ficou extremamente feliz com a notícia e, inclusive, disse que eu ia mudar de avião, dessa vez (a viagem de ônibus durava em média umas trinta horas e eu já havia feito o trajeto umas quatro vezes).

A semana passou rapidamente, eu arrumei minhas coisas e domingo de manhã já estava no aeroporto com apenas uma mala daquelas que vai abrindo e abrindo e cabe até um cadáver (morto) dentro, de tão grande. Então em Cuiabá eu cheguei. E o dia seguinte seria meu primeiro dia de aula.

fiz no paint

Não é como se agora eu fosse contar todos os meus dias em Cuiabá, mas acho que nunca escrevi sobre minha mudança para lá. E é algo que deixava todos surpresos, afinal, saí de Curitiba pra morar em Cuiabá. Além dos apelidos de gaúcha, pau-rodado (quem vinha do Sul) e dos vários "Bah, guria, tri legal!", coisas que eu nunca falei a não ser ironicamente e guria, que falo até hoje.

Cuiabá foi a cidade mais peculiar que eu morei até hoje. Havia a diferença gritante na temperatura, o sotaque meio anasalado, a recepção calorosa de quem mora lá e, claro, as próprias gírias e costumes regionais. Foi quase um estudo de caso. Mas eu gostei bastante de ter me mudado pra lá, no fim das contas.

Pelo menos a mudança, no começo, foi muito boa e realmente me fez bem. Conheci pessoas extraordinárias e uma personalidade coletiva muito diferente da curitibana. Acho que desencanado é um termo que eu usaria pra definir o pessoal de lá. E a Universidade era bem bonita. Nem tanto os prédios, mas a paisagem no geral era agradável. Do calor eu nunca gostei, exceto quando estava em uma cachoeira gelada na Chapada dos Guimarães. Eu costumava dizer, quando perguntavam, que eu não queria mais me mudar de Mato Grosso e que, se pudesse, moraria lá para sempre!

Mas com o tempo o sentimento de pertencimento àquela cidade foi esvaindo e deixando de existir nos últimos anos. Como se fosse um romance, cujo ápice foi 2008/2009, e que depois foi esfriando e virando rejeição. Eu sentia que a hora de sair de lá havia chegado. Então eu recebi com alegria a notícia da transferência do meu pai para o Sudeste.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

mudanças - parte I

Dizem que mudar é sempre bom. Que mudanças são boas, trazem renovação. Eu não costumo concordar com isso, mais pelo fato de que generalizar é sempre um erro do que eu ter tido alguma experiência ruim com mudanças. Mas com certeza existem mudanças ruins.

Inclusive a primeira vez que me mudei para Cuiabá foi uma experiência ruim. Eu não havia passado no vestibular pela segunda vez. E não é como se eu estivesse tentando um curso difícil como Medicina, era apenas Direito. Eu nunca quis mudar de Curitiba para Cuiabá, na verdade. Só prestei vestibular lá por que era lá que meus pais estavam morando.

Então meus pais falaram pra eu mudar pra lá e prestar vestibular numa faculdade particular. E foi o que eu fiz. Passei na prova, porém meus pais não teriam dinheiro para pagar a mensalidade. Então eu resolvi voltar para Curitiba e fazer cursinho lá. E foi o que eu fiz. Nisso houve uma lacuna de 4 meses, em que eu basicamente cuidava de casa (morava com meu irmão do meio e mais um amigo nosso) e fazia academia. Nada demais. Então, em maio, fui ao cursinho me matricular, novamente.

Na tarde daquele mesmo dia, em casa, o telefone tocou e eu mesma atendi:
"Boa tarde. Por favor, eu gostaria de falar com a senhora Ana Spoladore."
"Sou eu."
"Então, Ana, eu sou aqui da Universidade Federal de Mato Grosso e tou ligando pra te avisar que você foi aprovada no vestibular."
"Ah, você tá brincando! Sério, mesmo?"
"Sim, e eu preciso saber se você vai querer a vaga, caso contrário, iremos chamar o próximo candidato..."
"Não, não, eu quero, sim."

Depois que desliguei o telefone, meu irmão perguntou quem era, expliquei. Ele perguntou, então, se eu ia, ao que eu respondi "Vou, né".