quinta-feira, 6 de outubro de 2011

diana - parte I

Diana pensava numa forma de falar com ele sem deixar transparecer seus sentimentos. Porque quando se gosta de alguém, pensou ela, o menor movimento pode entregar sua intenção. Como se fosse muito ruim ter seus sentimentos descobertos, como que estivesse nua diante de todos, uma coisa assim, desprotegida. Não entendia muito bem a razão de ser disso, apenas sentia.


Dessa forma, deveria agir normalmente, com a maior naturalidade possível quando fosse chamá-lo para almoçar com ela ou falar sobre qualquer outro assunto. Ela deveria transparecer amizade e amizade, apenas. Afinal, eles nem combinavam, ela já havia pensado nisso tudo, mas não conseguia evitar aquele sentimento. O coração acelerando quando o via, quando se aproximavam, tudo a deixava desconsertada. Não havia cabelo suficiente para colocar atrás das orelhas num movimento de puro nervosismo.


"Você vai ensebar todo seu cabelo se não parar de passar a mão nele o tempo todo."
Era Rogéria, a amiga de Diana.
"Eu com cabelo ensebado ainda me saio melhor que você, Roger."
"Justo. E não me chame de Roger. Eu deveria ter pedido pra mudar meu nome enquanto ainda havia tempo. Mas também, quem iria adivinhar que ter o nome Rogéria daria tanto motivo pra chacota... pra bulem.
"Bullying. E qualquer pai adivinharia isso. Além do seu 1.80m de altura, né, Roger."
"1.78. Mas é verdade. Quem diria que eu teria vocação pra travesti, tanto no nome quanto na altura. Mas pelo menos não estou ensebando meu cabelo por causa de um cara que só me vê como amiga."
"Acho que isso nos torna duas losers, né?"
"Fale por você. Mas quem nunca, não é mesmo? Minha vantagem é que minha altura funciona como um filtro para homens. Só olho para os altos. Já você tem uma margem muito grande de oscilação. Sem contar sua falta de critério."
"Eu sou criteriosa, nem venha!"
"Ô. Lembra daquele que usava sandália com meia?"
"Tou tentando esquecer até hoje. O que eu via nele?"
"Não sei. Ninguém sabe. Nem ele saberia explicar. Mas viu, estou indo pra casa. Vai almoçar lá hoje?"
"Vou. Mas posso falar com ele, rapidinho, antes?"
"Você tem três minutos."