sexta-feira, 24 de setembro de 2010

um dia mais ou menos


Pra não perder a carona, acordei muito cedo e fui ao dentista. De lá, resolvi cortar o cabelo, não aguentava mais. Quando demoro muito para cortar, fico mal-humorada. Cheguei lá, lugar novo, ninguém tinha CHEGO ainda e fiquei esperando, afinal, não estava com pressa. Nisso chegou a manicure. Faz aí, então, o pé e a mão. Pé primeiro, please. "Você é sempre séria assim?" Na verdade, não, estou com muito sono, apenas. Gorduchinha e baixinha, com o cabelo escovado, porém bagunçado, com as unhas da mão feitas com um efeito muito feio que ela mesma fez. Péssimo cartão de visita. Perguntou da minha vida e eu, laconicamente, por causa do sono ou não, ia respondendo, sentada numa cadeira com um colchonete de massagem. Era uma coisa relaxante.

Nisso chega o cabeleireiro. Claro que era gay. Cabelo péssimo cartão de visita também. Queria e não queria que ele perguntasse minha opinião. Enfim, Jorge viu ele com um outro cara, não gostou, achou bonitinho, caiu no caminho ao trabalho. Conversa rolando solta. "Qual é o nome dela?" Oi, eu tou aqui, pode perguntar pra mim, meu nome é Ana. O que você vai querer fazer no seu cabelo? Expliquei e só ia esperar o pé ficar pronto para começar o corte.

Fui lavar e "Você é sempre séria assim?" Não, eu estou com sono. Começou a lavagem com uma água extremamente gelada. Tudo bem que aqui é quente e beirando os 40° nesses dias, mas eu já estava no ar condicionado e não estava com calor. Pensei que todo meu cabelo ia sair depois de lavado, além de receber uma massagem dolorida no couro cabeludo.

Começou o corte, começou as mãos. "Tá bom assim? Veja se ficou bom. Tá igual você faz?" Mas viu, eu tou pagando, e não é pouco, para você, no mínimo, ser segura de si e cuidar das minhas unhas sem eu precisar fiscalizar o trabalho.

"Tão linda e com essa cara de brava..." É só a cara, já disse que estou com sono. E eu não tenho mais 14 anos, né. "Tem namorado?" Não, não tenho. "Ah, que absurdo, que desperdício de beleza! Vamos arranjar um senador pra você!" Whaaaat?

Depois de 40 minutos fazendo o pé e a mão, o cabelo ficou pronto em 20 minutos, talvez nem isso. "Ficou moderno, não tirei o cumprimento, tá bem repicado..." "Nossa, que lindo, ficou lindo, Ana!"

Com promessas de que voltaria lá, quem sabe, mais pra frente, fui embora, fui almoçar.

Fui num restaurante buffet. Se tem uma coisa que eu detesto é buffet. Mas ainda sai mais barato que à la carte. Geralmente eu como apenas com os olhos porque, quando provo a comida, é sempre assim: o molho de tomate estava ácido, o frango estava seco, o tomate seco intragável, enfim, tudo muito nojento.

Fui ao shopping esperar o tempo passar, já que, mais tarde, eu tinha médico naquela região. Fiquei rodando, entrei numas lojas, fiquei um bom tempo num quiosque de jogos de raciocínio (eu sou muito burra, não conseguia resolver nenhum) etc. Fui numa livraria que tinha menos livros que aqui em casa, enfim, estava lá pelo ar condicionado.

Deu o horário e fui ao médico. A secretária dele é uma coisa hilária. Uma senhora de não sei quantos anos que, a cada cinco palavras, três são "querida". Como cheguei mais cedo, acabei adiantando minha consulta.

Ao entrar no consultório, ele se refere a mim como "a menina que fala bastante..." Sim, de vez em quando eu falo. Depois de cinco minutos, ele diz pra marcar daqui 20 dias. 20 dias? Muito cedo, sem contar que é a maior função chegar até o consultório dele. Volto quando quiser.

Cheguei em casa suja, suada e louca por um banho. Saí do salão com a promessa de não precisar lavar o cabelo tão cedo, mas, levedo engano. Com essa fuligem, com essa poeira, com essa fumaça, impossível não lavar o cabelo.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

um pouco sobre cartas

“Sem família o que somos? Menos que poeira de um grão. Sem família, sem amigos: o que me restava fazer? A única saída era sozinhar-me, por minha conta...”


Este é um outro trecho do mesmo autor do post anterior. Eu escrevi esta frase no intuito de começar uma carta, talvez um e-mail para meu querido amigo. Mas, na verdade, quem escreve cartas hoje em dia? Até pensei em escrever uma para uma amiga minha de longa data (se é que se tem amigos de longa data aos 24 anos...) e, recentemente, soube que ela está um pouco surtada, envolta em problemas e agindo de forma estranha. Desisti, claro. Perdeu todo o charme. E lamento o fato de não ter amigos românticos que moram longe. Posso até ter algumas amigas na minha cidade, mas não é a mesma coisa, sem contar o fato de que ninguém responde cartas hoje em dia.

Minha mãe disse que, no tempo dela, havia um programa em que se trocavam endereços e então se dava início a uma longa troca de correspondência pelo mundo todo. Ela conta da amiga dela dos Estados Unidos com quem ela se correspondia e que inclusive já morreu. Hoje ela escreve e-mails e textos e sempre lamenta que ninguém os lê. Eu mesma gostaria de um programa desses para escrever para alguém do exterior, algo emocionante assim. Lembro-me bem da alegria de receber uma carta, o quanto eu gostava.

Hoje parece que nada do que dissermos será interessante o suficiente, já que todos sabem de tudo. Qualquer novidade pessoal dividida pode se tornar uma competição para ver quem se saiu melhor na vida, ainda mais diante de tantas possibilidades e acontecimentos no mundo. Tudo parece insignificante, não digno de nossa atenção. Antes dividia-se o cotidiano nas cartas... alguém que teve um filho, a planta que floresceu, o cachorro que deu cria... como uma carta, hoje, poderia ser interessante? Eu não acho nem minha vida interessante. Mas talvez seja assim porque talvez eu não esteja prestando muita atenção nela. Talvez, na verdade, do que eu precise mesmo seja de um diário, e não um destinatário.

terça-feira, 27 de abril de 2010

away from keyboard

Gente! Nada a ver ficar tanto tempo sem postar, né? Isso que dá ter uma vida desinteressante. Mas veja bem que, quando eu precisar, eu posto. Isso mesmo, posto de acordo com minha necessidade, não vontade. Então, quem sabe, mais uns dias e eu escrevo alguma coisa. Em muito tenho pensado e, por isso, cansado. Então vou deixar um trecho aleatóreo de algum livro aí:


"Sem que eu soubesse começava uma viagem que iria matar certezas da minha infância. Os ensinamentos da escola, os conselhos do pastor Afonso, os sonhos de Surendra: tudo isso iria esvair na dúvida. Me olhei, e me vendo leve, sem carga, lembrei as palavras de meu pai:


'— Quem não tem amigo é que viaja sem bagagem.'"